O Museu da Escravidão e da Liberdade abriu a exposição "Chegança", nesta sexta-feira, com a presença da secretária municipal de Cultura Nilcemar Nogueira. A mostra, que fica em cartaz até o dia 19 de janeiro, será contada através do material usado no desfile da Acadêmicos do Cubango, no Carnaval 2018.

Diagnosticado com esquizofrenia, Bispo do Rosário produziu toda sua obra no local onde, atualmente, está localizado o Museu Bispo do Rosário, no interior de Sergipe. As peças buscavam retomar os fragmentos de sua infância em Japaratuba, sua atuação como marinheiro e pugilista. Além disso, suas obras exibem uma "recriação do mundo", em que o artista seria o responsável por apresentar o que salvaria do mundo para entregar ao criador. A secretaria municipal de Cultura lembrou do programa "Outros Comuns" realizado pela pasta: "A Secretaria Municipal de Cultura tem procurado dar valor a toda produção cultural, a todos os segmentos da sociedade. Independente se é novo, se é velho; se tem distúrbio ou se não tem. Temos o programa "Outros Comuns" que é exatamente um programa que damos um valor e proporcionamos uma ocupação dos nossos equipamentos por pessoas que, a princípio, estariam a margem desses espaços. Estou muito feliz que estamos hoje visitando a história de um negro que produziu uma grande arte", afirmou Nilcemar Nogueira.

Através de fantasias, fotografias e filme, a exposição traz à tona o debate sobre a cultura popular brasileira, o lugar do negro no mundo artístico e o tratamento para pessoas com transtornos psíquicos. O curador da exposição Leonardo Antan sempre trabalhou com o intuito de levar o carnaval a outros espaços. "Trazer essa exposição para o Museu da Escravidão e da Liberdade é um projeto antigo de tirar o carnaval das Avenida. O carnaval é uma manifestação artística e o Bispo do Rosário é um artista contemporâneo.  Várias ancestralidades se cruzam nessa exposição", destacou.

Durante a abertura da exposição, foi lançada a revista Ziriguidum Nota 10 que tem a distribuição gratuita. A idealizadora do projeto Maria Lídia Moraes afirma que se inspirou em Sargentelli e Jorge Perlingeiro para dar um nome à publicação: "É uma revista de cultura negra com uma pegada forte do samba, mas não é só carnaval. Vamos trazer temas variados como saúde, educação, moda... Tudo que é de interesse da população negra."

Nilcemar Nogueira festejou a criação de mais um periódico voltado para a negritude: "É uma felicidade receber esse lançamento aqui, que é um lugar que podemos nos reconectar. Na revista, teremos registros de importantes referências como mestre Manoel Dionisio, Mãe Edelzuita e a Ekedi Maria Moura. Essas pessoas são verdadeiras guardiãs da nossa história".